‘Se você não sabe como decidir faça o que manda seu coração’.
Bela frase, não é?
Mas eu gostaria neste artigo de desconstruir essa ideia
dicotômica entre razão e sensibilidade. Porque nós somos um ser integrado e
integrador de relações.
E como tal o tempo todo interagimos usando tanto nosso arcabouço
técnico e razoável como nosso lado mais afetivo. Pensar que alguém consegue em
qualquer tipo de assunto ser mais cabeça do que coração é tornar o ser humano alguém
esquizofrênico que tanto não separa o real do imaginário, como num momento vive
pela emoção e outro só pelo raciocínio.
Essa noção de agir fazendo o que manda o coração contem mais
um valor cultural do que um principio bom para se viver e tomar decisões. Porque
nossa cultura é marcada pelo desejo da busca pelo prazer, prazer aqui entendido
como a fuga de tudo aquilo que possa ser pesado, custoso, difícil e de longo
prazo.
Bauman fala das modernas relações humanas que são liquidas e
que se substituem facilmente pelo critério do ‘gostei disso’ ou ‘não gostei
daquilo’ e consequente inclusão e exclusão.
Freud em ‘O mal-estar na civilização’
afirma que ‘grande número de pessoas empreende a tentativa de assegurar a
felicidade e proteger-se do sofrimento através de uma delirante modificação da
realidade’.
Por não aceitarmos nossas realidades desejamos maquia-las
para não nos parecerem tão hostis. E é justamente aí que cometemos nossos maiores
equívocos. Porque se acreditamos que o coração, os sentimentos, são a fonte única
e segura de certezas e prazer então estamos dizendo que é melhor sentir do que
pensar e planejar. Que é melhor viver sensações do que lidar com a vida.
E inevitavelmente os que fazem o que manda o coração são os
que mais sofrem emocionalmente pois na medida em que fogem da sua realidade por
causa da dor esquecem que seu coração já está machucado e contaminado com a
dor.
A solução não é sobrecarregar a emoção com mais emoção e sim
com menos. O ato de se refugiar, ficar em silencio, pensar com calma nas
circunstancias e então montar um plano de ação é a melhor medida. Quem sempre
age no calor de uma emoção colhe resultados ruins.
Aprenda, portanto, que você é um ser holístico, todo
integrado, inseparável e indistinto. Use tudo o que você é para escolher. Não
coloque o carro na frente dos bois.
Caleb Mattos
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