sexta-feira, 18 de maio de 2018

O carro na frente dos bois.



‘Se você não sabe como decidir faça o que manda seu coração’.
Bela frase, não é?

Mas eu gostaria neste artigo de desconstruir essa ideia dicotômica entre razão e sensibilidade. Porque nós somos um ser integrado e integrador de relações.

E como tal o tempo todo interagimos usando tanto nosso arcabouço técnico e razoável como nosso lado mais afetivo. Pensar que alguém consegue em qualquer tipo de assunto ser mais cabeça do que coração é tornar o ser humano alguém esquizofrênico que tanto não separa o real do imaginário, como num momento vive pela emoção e outro só pelo raciocínio.

Essa noção de agir fazendo o que manda o coração contem mais um valor cultural do que um principio bom para se viver e tomar decisões. Porque nossa cultura é marcada pelo desejo da busca pelo prazer, prazer aqui entendido como a fuga de tudo aquilo que possa ser pesado, custoso, difícil e de longo prazo.

Bauman fala das modernas relações humanas que são liquidas e que se substituem facilmente pelo critério do ‘gostei disso’ ou ‘não gostei daquilo’ e consequente inclusão e exclusão. 

Freud em ‘O mal-estar na civilização’ afirma que ‘grande número de pessoas empreende a tentativa de assegurar a felicidade e proteger-se do sofrimento através de uma delirante modificação da realidade’.

Por não aceitarmos nossas realidades desejamos maquia-las para não nos parecerem tão hostis. E é justamente aí que cometemos nossos maiores equívocos. Porque se acreditamos que o coração, os sentimentos, são a fonte única e segura de certezas e prazer então estamos dizendo que é melhor sentir do que pensar e planejar. Que é melhor viver sensações do que lidar com a vida.

E inevitavelmente os que fazem o que manda o coração são os que mais sofrem emocionalmente pois na medida em que fogem da sua realidade por causa da dor esquecem que seu coração já está machucado e contaminado com a dor.

A solução não é sobrecarregar a emoção com mais emoção e sim com menos. O ato de se refugiar, ficar em silencio, pensar com calma nas circunstancias e então montar um plano de ação é a melhor medida. Quem sempre age no calor de uma emoção colhe resultados ruins.

Aprenda, portanto, que você é um ser holístico, todo integrado, inseparável e indistinto. Use tudo o que você é para escolher. Não coloque o carro na frente dos bois.
Caleb Mattos

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