Acho interessante que, escrevendo longamente sobre o
belíssimo sentimento do amor, Paulo, o apóstolo, descreva sua apreensão como
uma passagem do infantil ao adulto.
O amor é na maior parte do tempo infantil,
amor de memória, o Édipo revisitado muitas vezes e como Freud afirma, “é
verdade que o amor consiste em novas adições de antigas características e que
ele repete reações infantis. Mas este é o caráter essencial de todo estado
amoroso. Não existe estado deste tipo que não reproduza protótipos infantis.”
Buscamos no amar uma satisfação ergóica e às vezes permeado
de muito narcisismo. Daí o autor do texto dizer que amar não é dominar pelo
conhecimento, nem dominar pela espiritualidade, mas desarmar-se de preventivos
que me levem somente a querer o que me beneficia e que não me faça mal.
Se amo
com prevenção é porque o que chamo de ‘medo de sofrer’ não passa de reação narcísica
repetida.
Amar é estar vulnerável ao outro quando se escolhe
amar. Quantos você já amou que nunca lhe
retribuíram? Nem mesmo Jesus viu a gratificação de seu amor na maior parte da
multidão que o seguia. Mas ele prosseguiu amando porque escolheu amar.
E então,
vendo na escolha o amar e não na necessidade ser amado subimos o degrau que
separa a infância da maturidade, a ponto do apostolo afirmar que ‘agora nosso conhecimento
(sobre o amor) é incompleto, mas quando vier o que é perfeito, essas coisas
imperfeitas desaparecerão’.
Num outro texto bíblico do Novo Testamento lemos que ‘o
perfeito amor lança fora o medo’. Então amor maduro é aquele que perdeu o medo.
É o amor aberto ao sim e também ao não. É o amor que se doa sem receber
recompensa muitas vezes. É o ser que se torna pai e mãe de si mesmo e adota
outros como filhos e filhas.
Amor de Deus é assim. E o desafio nosso é aprender
o dele. Para que ao amar cuidemos da criança carente dentro de nós, não a
mimando com um amor de dependência, mas ensinando a dividir seu amor com
outros. Como a gente ensina nossos filhos a repartir seus brinquedos com seus
amigos.
Caleb Mattos.
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