O café e o vinho possuem uma coisa em comum: ambos precisam
de tempo para ser saboreados.
Gosto tanto de um quanto de outro, mas não sou daqueles que
engolem rápido a bebida como quem abastece seu veiculo na bomba.
É preciso deixar o vinho ocupar espaço palatal como ao café
é necessário o tempo do olfato. Perdemos a capacidade do desfrute num mundo que
nos acelera para o próximo compromisso. A existência ficou tão cheia de tédio
que Jesus lamenta nosso ritmo alucinado pelo ‘comer-beber-vestir’.
Todos os nossos sentidos já não são usados para a apreensão
da realidade. Eles se tornaram escravos de uma ânsia pelo ter. Sentidos não
sentem mais nada. Olhos são cativos de telas e não de outros olhos. Ouvidos
escutam barulho em demasia e não mais o silencio que clama por atenção. Tocamos
o virtual, mas não a pele que carece de afeto.
Parece mesmo que fomos roubados da vida, arrancados da existência
e feitos prisioneiros de algo que não nos deixa parar. Li sobre uma pesquisadora
que escolheu como objeto do seu trabalho salas de espera. Queria provar que as
pessoas que tinham que esperar atendimento ou a hora do embarque ficariam
frenéticas, agitadas, ofendidas pelo tempo perdido em minutos.
O resultado a surpreendeu. Concluiu que as salas de espera
são na verdade lugar de refúgio, retomada da consciência do verdadeiro ritmo da
vida. Para poder provar o que vale a pena é preciso desocupar-se do tempo,
deixa-lo passar.
Assisti a um filme onde o dinheiro do futuro era o tempo.
Cada um carregava em seu braço um determinado número de horas que iam se esvaindo.
A batalha era pela conquista de mais tempo para viver.
Para apreciar a sua obra o artista toma distância dela e a
admira por longo tempo. Contemplar é artigo de luxo hoje. Para poucos. Para
quem prefere viver a perder-se na louca corrida por mais um minuto.
Caleb Mattos.