quarta-feira, 14 de março de 2018

KENNEDY E A CASINHA BRANCA.


Robert Kennedy, candidato à Casa Branca, num discurso pouco antes da sua morte, em 1968:

‘Nosso PIB considera em seus cálculos a poluição do ar, a publicidade do fumo e as ambulâncias que rodam para coletar os feridos em nossas rodovias. Ele registra os custos dos sistemas de segurança que instalamos para proteger nossos lares e as prisões em que trancafiamos os que conseguem burlá-los. Ele leva em conta a destruição de nossas florestas de sequoias e sua substituição por uma urbanização descontrolada e caótica. Ele inclui a produção de napalm, armas nucleares e dos veículos armados usados pela polícia para reprimir a desordem urbana. Ele registra... programas de televisão que glorificam a violência para vender brinquedos a crianças.

Por outro lado, o PIB não observa a saúde de nossos filhos, a qualidade de nossa educação ou a alegria de nossos jogos. Não mede a beleza de nossa poesia e a solidez de nossos matrimônios. Não se preocupa em avaliar a qualidade de nossos debates políticos e a integridade de nossos representantes. Não considera nossa coragem, sabedoria e cultura. Nada diz sobre nossa compaixão e dedicação a nosso país. Em resumo, o PIB mede tudo, menos o que faz a vida valer a pena’.


Tudo quanto se mede e se torna estatística rende ganhos políticos e comerciais. Corporações vivem de oferecer ao infeliz ser humano a ultima solução para seus problemas, a um tempo reduzido e a um custo muito baixo. A promessa de felicidade instantânea e permanente ganha cada dia mais seguidores nas redes sociais.

Mas há um problema.

Supor que o aumento da renda corresponda necessariamente a maior bem-estar. Pode corresponder a uma vida mais confortável com menor dificuldade de consumo, mas daí dizer que o ser humano se satisfaz com isso é arriscado. Porque, nas palavras de Kennedy, ‘o PIB não observa a saúde, a qualidade da educação ou a alegria. Não considera a coragem, a integridade, a sabedoria’.

 Desconfie de tudo que possa ser reduzido a numero estatísticos. Eles podem ser altamente valiosos no Mercado, mas podem dizer quase nada sobre a vida real. E a vida real consiste daquelas coisas que a gente costuma dizer ‘que o dinheiro não compra’. Quanto mais simples nós a tornamos maior nosso nível de contentamento.

Nunca se vendeu tanto Rivotril para uma população cada dia mais ansiosa e em pânico, mas que tem tudo para viver em paz. Paulo, o apóstolo, disse certa vez que ‘aprendeu a viver contente em qualquer situação’. Não é a situação que determina se seremos felizes ou angustiados, mas sim a decisão de aprender a arte do contentamento.

A opção por reduzir expectativas muito altas, a sabedoria em desistir de pódios de concorrência, a sanidade em ouvir o som do próprio nome e não do título. O Mercado precisa que você acredite na lógica: mais consumo é igual a mais prazer e alegria. Mas, você sabe, no fundo, seu coração já conhece o verdadeiro caminho para estar feliz que, para mim, é mais ou menos aquele que dizia a antiga canção: ‘Ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, só pra ver o sol nascer’.

Caleb Mattos. 

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