Você sabia que assim como acontece no processo de desenvolvimento
físico-mental, a fé também tem seus ciclos?
Percebi isso quando estudei por mais de uma vez a vida do
personagem bíblico Jacó.
Irmão de Esaú, amado pela mãe e dela preferido, via como
certa a posição de segundo lugar na história.
Seu irmão era o primogênito e detentor do direito à benção
paterna, símbolo menor da benção divina. Jacó tem uma primeira vivencia na fé
que eu chamo de ANARQUICO-EGOISTA. Em parceria com a mãe arma uma mentira
fazendo-se passar pelo irmão e assim recebe a benção do idoso e cego pai.
Não respeita a hierarquia nem as leis da época, daí seu
anarquismo. E é movido pelo egoísmo porque toma a benção para si apenas e não
deixa nada para o irmão. Ato seguinte ele foge de casa. Abençoado, mas em fuga.
Esta fase da Infância da fé desconsidera compromissos seja com Deus, seja com
pessoas.
É um período onde estamos à procura do nosso lugar no mundo,
onde nossos sonhos são a única coisa que importa. Essa é uma fase que em Jacó é
reforçada pelo sonho da escada, onde anjos sobem e descem e lhe trazem mensagem.
Ali ele chama a experiencia de ‘Casa de Deus’ e promete até
dar o dizimo, isso se Deus atender todas as suas exigências.
O tempo passa e com ele se instala a segunda etapa da fé,
sua adolescência, que eu chamo de AUTOCONHECIMENTO.
Quando vai atravessar a região do Jaboque, ele luta a noite
toda com um anjo. Não custa lembrar que ainda estava fugindo de seu irmão. O
anjo o pega de surpresa e ele é obrigado a lutar até madrugada.
Claro que ele perde a briga mas ganha duas coisas não materiais
nem rentáveis: ganha a marca de uma vitória sobre seu caráter( ‘Jacó’ significa
‘trapaceiro’) quando sai mancando e nunca mais recupera sua lesão. Ganha também
um novo nome, Israel.
E Israel é um povo, uma comunidade. Deus estava pondo fim ao
seu projeto idolátrico e revelando que fé só tem sentido se expressa por mais
de uma pessoa, numa experiencia coletiva, comunitária. A adolescência da fé é
crucial para nos despertar para duas coisas que andam tão esquecidas: amor a
Deus e amor ao próximo.
Finalmente, a
terceira e ultima fase da fé é a maturidade, que eu chamo de RELACIONAMENTO.
Aqui a história prossegue narrando o reencontro de Jacó e
Esaú. Ambos, passados longos anos, estão milagrosamente em paz um com o outro.
Não mais desejo de vingança, ambos satisfeitos com a vida e supridos em tudo.
Jacó deseja dar ao irmão tudo o que tem. Esaú recusa porque
tem o bastante. Mas Jacó o surpreende ao dizer: ‘ver o teu rosto é como ver
Deus’. Numa só frase a união entre relacionamento horizontal e vertical. Diria
Jacó ao irmão: ‘Amo você porque amo a Deus’, ou, ‘Amo a Deus, amando a você’.
A ordem não importa na medida em que a fé madura é conexão,
é amizade, é bondade manifesta ao outro. É a fé encarnada, humanizada e
humanizadora, abraçando o irmão e com ele celebrando a Deus.
Fim.
Lembro a você que uma fase não é pior que a outra, nem uma
pode acontecer sem primeiro acontecer a outra. Todas elas são necessárias.
O que não podemos fazer é permanecer em uma delas a vida
toda.
Meu desejo é que a sua fé no seu Criador nunca estacione até
atingir a fase mais prazerosa de todas, a maturidade.
Caleb Mattos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário