sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Solidão e estar solitário.




Para mim existe uma diferença entre as duas palavras, embora elas pareçam entre si muito semelhantes. Estar sozinho é uma condição nem sempre planejada e desejada mas ás vezes acontece por uma necessidade, por uma enfermidade, por um momento sobre o qual não se conseguiu lidar. E nestes casos é preciso, mesmo que não queira, estar sozinho, mesmo porque não há outra opção.

Há muita gente sozinha que jamais planejou estar assim, mas que as circunstancias da vida a empurraram para esta realidade sem que elas pudessem oferecer resistência, ou mesmo depois de longo trabalho para manutenção da unidade e companhia mas sem sucesso. Estar sozinho produz, naturalmente, um elevado grau de deslocamento daqueles pertencimentos de outrora.

A comunhão diária já não existe, a parceria desfeita, o querer bem desaparece. No lugar resta o inevitável pensamento do fracasso, da inadequação, do não ter sido suficiente e capaz. Perde-se os poderes imaginados e utópicos de super-homem e agora você se vê na absoluta consciência de que é apenas e tão somente um ser humano, desprovido de poder, de argumentos, totalmente á mercê como nunca da Graça de Deus.

Já o estar solitário é, para mim, uma escolha espontânea, de não rompendo nenhum vinculo, promover pequenos retiros de horas onde se fica só para orar, contemplar e reabastecer-se de Deus não perdendo de vista seus alvos para nós entre a agitação deste mundo. Estar solitário é uma necessidade numa sociedade que exige que você esteja ocupado sempre com algo ou com alguém. Mas quem vive assim na escravidão da agenda perde aos poucos a consciência de ser individuo. Perde a noção de quem é quando não está cumprindo uma tarefa ou exigência. Vai se tornando apêndice da vida alheia, anula-se, e se reconhece somente pelo que faz e pelos papéis que representa socialmente.

Às vezes a vida leva a alguém para a solidão a fim de estar solitário. È um processo de recuperação da própria identidade. Isso não é uma perda. È um meio em que acredito envolver a intervenção de Deus. Conheço tantos que nem sabem mais quem são. Eles se tornaram alguém que representam socialmente e com maestria o que lhe mandaram fazer. Mas tem medo de refletir e ficarem sozinhos com seu interior. Tem medo de se analisarem e perguntarem se são o que fizeram deles ou se tem existência própria.

Paulo numa de suas cartas afirma: ‘Pela graça de Deus sou o que sou’.
Ele não diz: ‘Pela graça de Deus faço o que faço’.
Esta é a diferença entre a liberdade dos filhos de Deus e a escravidão dita religiosa.
Quem é você, afinal?
Somente a ida á solidão ou a pratica constante de em certos momentos estar sozinho é que lhe pode dar a resposta.

Caleb Mattos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Rio de lágrimas.



‘Junto aos rios da Babilônia nos assentamos e choramos’ – Salmos 137:1.
Longe de sua terra o povo amado, em condição humilhante de cativeiro, faz apenas duas coisas: senta e chora. E ao chorarem, suas lágrimas se misturam ás águas dos rios que lá havia. Há muito rio que já levou lágrimas em seu leito e há lágrimas tão frequentes e duradouras que se assemelham a um rio por fluírem incessantemente.

No rio de lágrimas as águas que saem dos olhos servem a um propósito: expressar o que vem de dentro e deixar sair o que não pode ser calado. Lágrimas são benéficas quando não usadas como meio de comiseração, mas como forma de extravasamento.

Sentar e chorar é terapêutico porque a vida tem, sim, muitas alegrias e celebrações. Nela existe festa e champanhe mas sempre intercalados por pausas em que o fel chega aos lábios e amarga o sabor de tudo. Este é o ritmo normal da vida, altos e baixos, montanhas e vales, nascimentos e perdas. 

Nada estranho, afinal, não conheceríamos a felicidade sem seu antônimo. Não saberíamos o que é viver sem a experiência do morrer. Não cogitaríamos da paz sem a guerra.
No entanto, o rio de lágrimas é, sobretudo, um rio. E um rio tem águas correntes que vão sendo levadas para longe do local onde nasceram. 

Dizem que ás águas de um rio não passam de novo pelo mesmo local. O rio de lágrimas será, então, levado a longas distâncias um dia. O que implica dizer que existe um momento em que o riso volta e a canção faz cócegas na alma.

O mesmo povo na Babilônia, que fala do rio de lágrimas, mais tarde disse: ‘O Senhor restaurou a nossa sorte; ficamos como quem sonha. A nossa boca encheu-se de riso e a nossa língua de cânticos’. Nada dura para sempre. Nem mesmo o rio de lágrimas. Espere até que as águas corram velozes, carregando em seu leito tudo que se chorou.

Depois você verá que Deus irá restaurar a sua alegria. Você ainda cantará e rirá muito de tudo o que lhe aconteceu. É só uma questão que envolve o tempo e a graça de Deus. Enquanto isso, deixe as lágrimas caírem. Elas precisam cair, pois, caindo saem, e saindo vão, e indo partem, e partindo, levam para longe toda sua dor.

Caleb Mattos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Ganhar a vida ou viver a vida?




Duas frases ditas por Jesus são de uma sabedoria e profundidade incomparáveis.
A primeira é: ‘que adianta ao homem ganhar o mundo ( a vida ) e perder sua alma?
A segunda é: ‘Eu vos dou a vida (eterna)’.

Entre estas duas frases temos o resumo do que fazemos com os nossos dias sobre a terra. Claro que se trata de uma escolha por uma coisa ou por outra. Existem o que optam pela primeira possibilidade e outros, pela segunda.

Os que compõem o primeiro grupo entendem a vida como algo a merecer já que desde a formação familiar nós aprendemos que para receber uma compensação pelos feitos é preciso corresponder a medida que se estabelece da parte daqueles que nos formaram, educaram. E então crescemos repetindo ao longo da fase adulta esta máxima de que a vida não é uma dádiva, ela é uma meta a ser conquistada por meio dos méritos que acumulamos aqui e ali por nossa produção.

O segundo grupo é constituído daqueles que receberam a benção da mensagem salvadora do Evangelho e desde cedo migraram da primeira opção para a segunda. Eles compreendem que a vida lhes foi dada sem uma etiqueta, que ela é fruto da Graça imerecida do Pai e que ele supre em Cristo cada uma de suas necessidades. 

Estes resolvem não ‘ganhar a vida’ porque já a receberam de Deus. Eles optam em viver a vida. E descobrem que sob a direção divina, a vida é muito boa, embora rápida. Eles não perdem tempo tentando encontrar um motivo ou razão para explicarem certas limitações da sua própria humanidade, não se encaracolam na vida, girando em círculos e fazendo dela um emaranhado de nós. 

Eles vivem a vida, eles a aproveitam segundo a segundo e para eles, cada manhã, é momento de repetir que ‘as misericórdias do Senhor foram renovadas sobre eles’.

Os dois grupos passam pelas lutas inerentes da vida: doenças, perdas e morte. Mas enquanto um faz de tudo para prevenir a vida destas coisas e se permite acordar todas as manhãs com a ansiedade latente, o segundo agradece mais um dia e vive com intensidade o mesmo, já que, não sabe se amanhã estará aqui ou no doce porvir. 

Como Paulo são capazes de dizer: ‘Se eu estiver aqui, muito bem; mas se estiver lá, muito melhor’.
E você?
Está tentando ganhar a vida ou está vivendo a sua vida?

Caleb Mattos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Chorar ou Sorrir ?




Diz o livro de Neemias que quando os alicerces de um novo templo são lançados, na restauração de Jerusalém, por concessão dos persas, o povo se divide em dois grupos distintos. Um que celebra, comemora, canta, ri, dança, festeja porque possui agora um novo espaço onde junto dos seus podem adorar ao Deus cheio de amor e bondade, que restaura todas as coisas.

Este primeiro grupo poderia muito bem ter escrito o Salmo 126: ‘Quando o Senhor restaurou a nossa sorte ficamos como quem sonha; então, a nossa boca se encheu de risos e a nossa língua de cânticos’.

Mas há um segundo grupo que fica sentado no chão, chorando prostrado. Eles tinham visto o primeiro templo e toda a sua glória. Entraram lá incontáveis vezes para prestar culto. Quando miram o segundo templo, no entanto, a reação é de queixa, de choro alto, de depressão, de desencanto. Este segundo grupo poderia muito bem ter escrito o Salmo 137: ‘Junto aos rios da Babilônia nos assentamos e choramos com saudades de Sião’. 

È um mesmo acontecimento, dentro de uma nova realidade de reconstrução da vida, mas com duas atitudes absolutamente díspares.

A novidade para alguns é sempre bem vinda porque ela representa dias ainda não desfrutados, cheios de oportunidades e muitas alegrias. A novidade se encaixa na palavra divina que proclama: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. Ela reverbera o texto que diz: ‘Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam’.

Mas o saudosismo causado pela perda de algo que se amava é mórbido porque ele impede de enxergar que Deus está construindo novas camadas sobre as velhas todos os dias. Que ele anseia nos tirar do vale da dor. Que ele é movido pela vontade de enxugar dos olhos toda lágrima. Para quem é saudosista nas perdas pode até ver a novidade, mas não a comemora, não a celebra, não vibra com ela porque não acredita que é Deus quem a está construindo.

Bem, eu tomei uma atitude na minha vida. Decidi parar com o saudosismo do que já se foi e resolvi cantar, me alegrar e sorrir diante da coisa nova que está vindo a luz da parte de Deus. Quero entrar neste novo ‘templo’ que ele está construindo, para, ali dentro, junto dele, cantar e declarar com a mais firme convicção: ‘Deus tem feito grandes coisas por mim, por isso  estou feliz’.
Caleb Mattos.


sábado, 14 de novembro de 2015

Não há lugar seguro no mundo.




Há tempos o sociólogo polonês Zygmunt Bauman vem alertando para os efeitos da globalização e da sociedade de hiper-consumo. Segundo ele, todos os valores da era chamada  ‘moderna’ se diluíram a tal ponto que hoje vivemos numa sociedade ‘liquida’, impermanente, insegura e incontrolável.

O dia de ontem, sexta-feira 13 de 2015 foi realmente a noite do medo e do horror em Paris com atentados em vários pontos da capital deixando mais de 100 mortos. Enquanto se tenta entender a razão de tudo isso, que parece não ter nenhuma ideologia por trás a não ser a violência pela violência, nos perguntamos para onde estamos caminhando.

Paris, Síria, Espanha, Afeganistão, Alemanha, tanto faz.
Não há lugar seguro na terra. E a razão é que o ser humano em sua gênese é um ser em queda, expulso do que era Paraiso e tendo que lidar com a delicada arte da convivência social. Bastou Adão e Eva deixarem o Èden que acontece o assassinato de Abel por seu irmão Caim.  

Na incompetência de conseguir viver ou dialogar, muitos tomados pelo pavor, se encastelam em seus núcleos fechados ao qual damos o nome de ‘condominios’.

Mas inevitavelmente temos que sair ás ruas e ir a lugares públicos. E quando saímos ficamos expostos a todos e a qualquer um que tenha na mente a idéia de que o ‘mal são os outros’. Eu não sou um pessimista, até por ser cristão, mas um realista. Acredito que vulnerabilidade, daqui para a frente, será a palavra que melhor definirá a nossa vida cotidiana.

Não, não estamos protegidos por equivocadas hermenêuticas da Biblia de que ‘praga nenhuma chegará á tua tenda’, por mais que os ilusionistas de púlpito nos forcem a acreditar nisso. Eu acho que é melhor viver na realidade nua e crua do que crer em fantasias só para acalmar a ansiedade por algumas horas.

O que temos de Deus é a garantia de que nos está preparando um lugar onde ‘ a morte já não existirá, em que não haverá mais tristeza, lagrima, luto, pranto, nem dor’. È para lá que os cristãos autenticados pela fé somente firmada em Cristo caminham. Eles se sabem peregrinos e estrangeiros neste mundo. 

Sabem no dizer de Paulo que ‘somos como ovelhas levadas ao matadouro’, mas, apesar disso, ‘somos mais que vencedores por meio daquele que  nos amou’.

Enquanto isso oremos por Paris, por outras nações e pelos familiares que hoje choram.
È o que podemos fazer.

Mas, além disso, temos que promover a paz onde vivemos segundo Jesus. Promover a paz em nossos núcleos mais próximos, falar de paz, de convívio harmonioso, de tolerância, de solidariedade, de conciliação, do amor de Deus. 

Isso parece uma gota no oceano de violência que nos cerca mas eu e você sabemos que são pequenos movimentos que promovem grandes mudanças. Pode ser até que demore, mas um dia  a semente nasce e com ela os frutos da justiça e da paz que agradam a Deus.

Caleb Mattos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Você vai voltar a sorrir.




Tereza de Ávila certa vez escreveu:
‘Nada te turbe, pois tudo passa;
A paciência tudo alcança, nada te espante;
Quem tem a Deus nada lhe falta,
Só Deus lhe basta’.

Fico a pensar qual era o contexto da irmã quando isso escreveu. O que ela passava, o que sentia, que lutas atravessava. Muitos pensam que os que habitavam os lugares solitários do passado num retiro que durava uma vida estavam imunes a toda tentação, luta e conflitos que atingiam os cidadãos urbanos.

Mas basta uma leitura nos escritos de Tereza para perceber que todo esse modo de pensar era falso. Os reclusos eram os que mais sofriam os ataques do inferno sobre si porque dedicavam suas vidas inteiramente a Deus, tudo que eram e tudo o que pensavam sobre o futuro.

Eu leio na Bíblia que todo aquele que deseja viver piedosamente em Cristo será perseguido. E que, por causa do nome de Jesus, muitos perderão a vida, a família, a honra e o nome. Mas não por estarem distantes de Cristo e sim justamente pelo desejo que passa no coração deles e os alimenta de se aproximarem ainda mais em amor do Salvador.

Mas Tereza dizia que se você é do grupo que ama a Jesus mais do que tudo na vida e se está sendo alvo de ataques que se manifestam camuflados por todo tipo de palavra e calúnia, não se deixe ficar perturbado. Ela apresenta algumas razões para isso.

A primeira é que ‘tudo passa’. Por mais que os ataques espirituais á sua vida pareçam aumentar dia a dia e se renovarem sem parar chegará um momento em que eles vão recrudescer, diminuir, escassear, até que, como um filete de água simplesmente secar. E isso não porque você conseguiu barrar tais ataques mas porque o Deus que lhe ama vai paralisando as armas do inimigo gradativamente, até que não seja mais possível ao acusador prejudicar você. Há um limite para a atividade do diabo, basta ler a história de Jó e você perceberá este limite imposto por Deus.

A segunda razão para não se deixar ficar perturbado, segundo Tereza, é que ‘a paciência tudo alcança’. E paciência, conforme a descrição bíblica não é uma atitude de passividade inerte, como se ensina nas filosofias orientais, bastando sentar na posição certa, aspirar o ar corretamente, entrar em sintonia com seu íntimo e aprender a relaxar. A paciência é fruto do Espirito Santo, o que significa dizer que o paciente é aquele que se mantém conectado, quando sob pressão, ao Espirito de Deus. Nele medita, nele confia, lança mão das suas promessas da Escritura e simplesmente aguarda o momento em que será tirado do cativeiro para a liberdade. Tereza diz que esta paciência cristã tudo alcança. O fruto dela não é apenas quietude de alma, mas liberdade aguardada para ser solto das correntes que prendem você por algum momento.

E, finalmente, para Tereza, a terceira razão para não se permitir ficar perturbado é que ‘quem tem a Deus nada lhe falta’. È preciso, contudo, entender esta colocação. Porque ela parte de Tereza, que vivia reclusa em orações e contemplação. O que ela tinha de seu? Que bens detinha? Quais eram suas posses? Que projetos e sonhos lhe passavam pela mente? Nada daquilo que eu e você listamos como nossas aquisições. Porque nós temos muitas coisas e mais Deus. Tereza só tinha a Deus e nada além. 

Por isso ela diz: ‘quem tem a Deus nada lhe falta’. Há momentos em que nada nos ajuda e é capaz de oferecer auxilio: conhecimento, experiência, técnica, finanças.
Porque certas questões da vida passam muito longe de tudo isso. O que, por exemplo, sobrou para Jó em sua angustia? Apenas Deus. Mas este era para o homem de Uz a única realidade valiosa. Portanto, se você ama a Deus e tem a Deus acima de tudo e de todos, fique calmo: nada lhe faltará.

 E quando Deus determinar que o seu tempo de dor deve acabar você verá a diferença prática entre os que amam a Ele e os que o desprezam.
Desejo que você continue mantendo os olhos no Senhor neste seu momento mau.
Tenha certeza: tudo passa, a paciência tudo alcança, quem tem a Deus nada lhe falta.

Caleb Mattos.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Corte o seu cordão umbilical.



Logo após o parto a primeira medida adotada pelo médico é cortar o cordão umbilical.
Ele é a ultima ligação que faz do corpo da mãe e do bebê um só.
Mas é preciso que se corte porque dali para a frente o bebê já não será a extensão da sua mãe.

Ele vai crescer, adquirir sua própria personalidade e mais á frente suas escolhas na vida.
Deus preparou para que fosse assim, caso contrário, nós seríamos não o Eu mas o Outro. E ser o Outro é não ser, porque nesta simbiose não há o elemento fundamental da condição humana: a liberdade.

Porém, há muita gente que mesmo crescida mantém um cordão umbilical que o prende ao outro. São codependentes em tudo do Outro porque ainda não desenvolveram seu próprio Eu. O problema maior com isso é transferir ao Outro suas vontades, idealizações falsas e sobretudo controle.

Gente que ainda não desenvolveu seu próprio Eu domina o Outro porque acredita que ele é o objeto do qual depende para existir, do qual tira suas forças e energia.

São aquelas pessoas melodramáticas que vivem dizendo: 'eu não consigo viver sem você' ; 'se você morrer antes de mim eu morro em seguida';  'se você partir minha vida não terá mais razão'. Isso pode soar como um tipo romântico de amor mas não é. 

Porque o amor acima de tudo deixa o outro livre para ser ele próprio. Paulo falando deste dom afirma que 'o amor não busca seus proprios interesses'.

Por isso, aprenda a pensar com sua própria mente.
Aprenda a tomar as próprias decisões.
Aprenda a arcar com as consequências da sua própria escolha.
Aprenda a deixar o outro em paz.

Viva sim, em relacionamentos, mas nunca sugando ninguém, nem tolhendo sua liberdade, pensamentos e voz.
Corte de uma vez o seu cordão umbilical.
Você verá que ter sua própria identidade é uma das dádivas mais necessárias que Deus nos concedeu.
Caleb Mattos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A morte é a privação da sensibilidade.



'Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da sensibilidade' (Epicuro).

Confesso que fiquei encantado com este texto de Epicuro que resume a morte a uma privação da sensibilidade. Mas a leitura que eu fiz do texto não foi da morte como a ultima etapa da vida consciente. Mas da morte como a perda total da sensibilidade.

Ao ler a máxima eu me lembrei da parabola que Jesus conta do homem que ficou louco porque acumulou toda sua fortuna e disse para a sua própria alma: 'tens muita coisa em depósito para muitos anos, então, descansa e regala-te'.

A sua loucura foi pensar numa extensão da vida que ele podia controlar tão somente em razão da fortuna que duraria anos. E sua alcunha de 'louco' lhe é própria porque a loucura nada mais é do que a perda da sensibilidade.

Fica-se louco quando se perde a noção de que a realidade é a mentira que contamos a nós mesmos e persistimos em crer nela, ainda que desprovida de qualquer fundamento lógico. O rico cria no engodo de que seu dinheiro é que lhe garantiria a vida. E crendo nesta falsa premissa, enlouquece.

Fica-se louco também quando se elimina por completo a sensibilidade dos sentimentos ao outro. Passa-se a creditar a ele o pior, o mais indigno, recheando tudo isso de mentiras e falta de provas. Crendo-se também nestas mentiras inventadas e repetidas dia a dia a si propria inventa-se uma nova 'verdade'. Mas tal arremedo de 'verdade' é o conjunto acumulado de mentiras feitas para desamar, destruir, afastar, prejudicar.

Assim, as pessoas não morrem apenas quando o ultimo suspiro é dado no leito. Elas morrem em perfeito estado de saúde, enlouquecidas pelo ódio, pela rejeição, pelo desejo incontido de vingança.
Morre-se de ódio, sim, mas uma morte na alma, no sentimento, na intimidade do ser.

Não sem motivo o salmista adverte a mim e a voce:
'Deixa a ira, abandona o furor, não perca a paciencia, porque isso acabará mal'.

Não deixe sua sensibilidade morrer.
Ela pode leva-lo a sepultura relacional antes do seu ultimo momento sobre a face da terra.

Caleb Mattos.

sábado, 31 de outubro de 2015

Santidade cristã com sanidade mental.

A Vontade de Deus para o casamento.




Durante muito tempo na questão do amor eu vivi pela máxima: ‘Será que é da vontade de Deus’?
Confesso que aconselhei muitos jovens ao longo da jornada afetiva, sendo esta a principal máxima que eu usava.

Mas eu jamais fiz a pergunta: ‘È da minha vontade’? ‘È realmente essa pessoa com quem quero construir um futuro até a velhice e morte’? Temos mais convergências ou divergências?

Aprendi que usamos ‘vontade de Deus’ muitas vezes fora do contexto da própria Bíblia, para todo e qualquer assunto. Ao fazer isso anulamos nossa capacidade de pensar, refletir, gostar ou não, sentir ou não sentir.

Curioso que, quando Paulo fala de matrimonio no capitulo 7 de 1 Coríntios ele diz que o viúvo ou viúva está agora ‘livre para se casar com quem quiser, desde que seja no Senhor’.(grifo meu).

Ora, se está livre para casar com quem quiser isso implica dizer que Deus nos dá a liberdade de, dentre tantos filhos e filhas dele espalhados pelo mundo, escolher o tipo físico, a personalidade, afinidades, semelhanças, gostos parecidos, convergência em muitos assuntos mais do que divergências.

Hoje a minha resposta aos jovens que me perguntam sobre isso é uma pergunta: ‘Você o ama, sente atração física, emocional, espiritual por ele(a)? Gosta de estar em sua companhia? Ele ou ela é bem humorado? Convive bem com seus pais? È muito exigente perante a vida? Ou é  consumista e cheio de ‘mi-mi-mis’?

Se for tudo isso, e não cheio de interesses pelo que você pode lhe dar, se não for do tipo que quer casar para resolver seus problemas emocionais de anos, e se tiver mais coisas positivas e saudáveis, acredite: é sim a vontade de Deus para você.

Mas, se ao contrário: é possessivo(a), implicante com o que você fala ou veste, não elogia, não presenteia, não faz agradinhos e pequenos mimos, mas só critica sua postura , não respeita os próprios pais e irmãos, é briguento(a), ama conflitos e discussões, não converge em quase nada... então acredite, não é de Deus.
Deus não une pessoas para viverem em guerra, mas para viverem em paz.

Então não pergunte só se Deus quer.
E por favor, não vá atrás de 'revelações' que dizem que Deus quer que você case com aquele ou com aquela.
Pergunte se você quer, se é da sua legitima vontade e decisão livre.

Claro que os casamentos sempre exigirão ajustes aos longo do tempo.
Mas casais que realmente se amam vão superar tudo e envelhecer saudáveis, rindo de si mesmos e um com o outro, amando a todos e a Deus acima de tudo.

Porém, se você não ama, mas se sente obrigado a se casar por algum outro motivo, desista.
Se quer casar só porque chegou na zona de corte dos 30 anos, não case.
Se quer casar porque sua família não o quer mais em casa, não case, alugue uma kitnet e vá morar sozinho.
Se quer casar só por causa da libido, vá sublimar essa libido com esporte ou outra ocupação.
Antes que seja tarde e você só venha colher desgostos ao longo de uma vida que tinha tudo para ser excelente e abençoada por Deus.

Caleb Mattos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Microcosmo e Macrocosmo.




A segunda palavra já diz tudo.
Ela aponta para o que é maior do que você, aquilo sobre o qual você não detém o menor controle ou, por mais que planeje sair tudo certo, se vê submetido a certas leis que acredito, por ser cristão, divinas e soberanas.

O microcosmo é tudo o que acontece dentro de você por causa do que acontece fora de você. Neste caso, se haverá alegria ou tristeza, sucesso ou fracasso, bem estar ou tribulação, tudo isso de alguma forma está conectado ao macrocosmo.

Devido a esta ligação, eu diria, em termos comparativos que o macrocosmo é o nosso corpo, e o microcosmo, a nossa alma. Tudo o que o corpo sente afeta a alma e tudo quanto ela vive somatiza.
Eu tenho aprendido a trabalhar a visão do macrocosmo do ponto de vista teológico. Paulo me diz que meu corpo ‘é templo do Espirito Santo’. 

Em sendo assim, o fruto deste Espirito de Deus atua em mim, isto é, meu corpo, gerando nele amor, alegria, paz, paciência, bondade, fidelidade, mansidão, autocontrole. E no momento em que ele atua no meu corpo faz com que a minha alma se beneficie diretamente desta santa presença corporal.

Aprendi, igualmente, a enxergar em cada situação, boa e má, algo de Deus, que coopera em sinergia para fazer bem a mim mesmo. Claro que de inicio eu não tenho a capacidade de compreender o que está acontecendo, nem de crer que aquilo é de fato bom. 

Mas pela confiança que resolvi depositar em Cristo eu tenho certeza de que as coisas realmente resultarão em beneficio, não em prejuízo.

Deixe seu microcosmo ser tratado pelo Espirito Santo.
Permita que ele deposite ali dentro aqueles frutos que eu mencionei acima.
Entregue os seus medos(o macrocosmo) nas mãos daquele que Tudo Pode.

Ele diz que ‘o dia de amanhã cuidará de si mesmo’.
Então.... durma tranquilo, porque o dia de amanhã ele vai preparar para você.
‘Eu sei em quem tenho crido’, diz o apostolo Paulo.
E você? Pode dizer o mesmo?

Caleb Mattos.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A BENÇÃO DO EVANGELHO.







Um homem cujo nome não mencionarei descia uma rua onde estávamos cantando e anunciando o Evangelho de Cristo. 

Numa noite de verão, por sobre uma picape, com lâmpada presa a uma haste, com instrumentos musicais, um mini palco.


A luz da lâmpada atraiu siriris e alguns deles entraram sem a devida licença pela minha boca enquanto falava. Um pequeno grupo assistia a tudo e nos ouvia. Orações, cânticos, a Bíblia lida e proclamada.


Então eu o vejo descendo a rua e vindo em nossa direção. Visivelmente embriagado cruzava os  dois lados da rua até conseguir ficar em frente ao carro. Ele era o mais próximo de todos. 

Parecia com uma atenção redobrada e muito interessado. Ficou ali até a ultima oração. Convidamos quem quisesse ter um encontro com Cristo naquela noite. Ele foi o único a levantar a mão.


Eu desci da picape e orei com ele. Cheirava a muita bebida. Então perguntei se ele tinha compreendido tudo que acontecera ali. Se sua oração foi consciente, de coração. 

Ele disse que sim. Então eu lhe passei o endereço da igreja. Era um sábado a noite. Não anotei no papel, não lhe dei um cartão. A igreja ficava uns 4 quilômetros de onde ele morava, próximo de um córrego, numa casa de tábuas e com cheiro de esgoto ao fundo.


Alguém comentou comigo que, se ele achasse a casa dele naquela noite já seria um milagre. Eu confesso a você que concordei. E eu havia acabado de anunciar a salvação em Jesus Cristo a todo o que nele crer, não importa quem seja, e como esteja.


No domingo à noite eu tomei um susto. Na entrada da igreja lá estava ele. Não mais alcoolizado, mas sóbrio; não mais com roupas sujas mas com paletó e calça social. Não mais com aquele conversa que mal se entende mas com sorriso no rosto, como que zombando da minha falta de fé, me disse exatamente isso: ‘Eu não disse que eu viria?’


E ele veio e ficou.

Trouxe a esposa e todos os numerosos filhos para a igreja e para o Evangelho.

Construiu uma nova casa num outro bairro aos 64 anos. Com seu trabalho, com seu suor e ajuda dos filhos. Na frente da casa montou um salão de cultos. Como era gostoso cultuar a Deus ali. Tudo simples, mas limpinho e cheio de alegria.

 Ele cantava e tocava seu violão. Compôs muitos hinos de adoração a Jesus. Tudo carregado de emoção, fé, certezas e novidades.

Filhos cresceram, filhas se tornaram missionarias, outros líderes de igrejas. Não dá para dimensionar o que Deus fez na vida dele e através dele. 

São muitos os frutos. Uma surpresa feliz. Um de seus netos hoje mora no mesmo condomínio que eu. Feliz nós conversamos e relembramos de tudo quando ele era apenas uma criança.


O Evangelho é assim. Chega em lugares inóspitos e sem esperança. Penetra nas histórias mais destruídas que você possa ter visto ou supor. Transforma de dentro para fora hábitos e promove novas atitudes. 

È mesmo como o fermento que leveda toda a massa. Tudo cresce, se multiplica e se expande através dele.

È por isso que amo pregar o Evangelho. Desde o dia em que ele entrou no meu coração. Porque por meio dele muitas tristezas são curadas. 

Feridas são cicatrizadas. Futuros brilhantes são construídos. E o cântico sai da alma dos que o acolhem. Como do violão daquele querido irmão.  E faz todos que o recebem cantar com sinceridade: 


‘Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro.

‘Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos.

‘ E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR’ – Salmos 40:1-3.

sábado, 30 de maio de 2015

BRUTUS.




Nós o compramos numa feirinha em Aguas de São Pedro.

O Brutus é o opositor do Popeye, sempre fazendo trapaças e tentando ameaçar a indefesa Olívia Palito.

Fortão, ele não é páreo para ninguém, exceto para o marinheiro quando este está potencializado pelo seu poderoso espinafre em lata.

Se podemos aprender alguma coisa com vilões, eu aprendi com Brutus a ser um pouco mais duro diante da vida e da necessidade de reação aos golpes inesperados que ela me dá. 

 Não entenda mal. 

Não vou deixar minha demorada paciência de lado, nem minha calmaria, tampouco o desejo de evitar conflitos e desviar de brigas e confusões.

Mas estou aprendendo que uma certa dose de dureza sob controle é necessária. 

Porque nem sempre somos tratados com a mesma gentileza que oferecemos, o mesmo amor que dedicamos e a mesma ternura que sai das nossas atitudes.

Você percebe isso no seu trabalho todos os dias. Entre seus parentes, em relações de negócios, e nos diversos trânsitos onde relacionamentos humanos estão envolvidos. 

Dependendo da maneira como você foi educado e da sua cultura familiar você será passivo diante daqueles que sabem que você não vai jamais reagir, nem discutir, nem buscar o seu lado na questão.

Isso leva algumas pessoas a pagarem um alto preço emocional por engolirem sempre aquela palavra inadequada, aquele comentário maldoso, aquela critica sem fundamento, ou o constante gotejar de uma insatisfação do outro. 

Elas, em nome de um amor a qualquer preço, se anulam, se aniquilam, morrem aos poucos dentro de si mesmas.

Ser um ‘Brutus’ não é ser mal educado.
È apenas e tão somente saber que você também é humano, e que também tem seus limites. 

Que não é obrigado a sofrer injustiças calado e nem tem a missão de ser o capacho por onde todos pisam e limpam seus pés.

Ser um Brutus é ser forte o suficiente para dizer: ‘Basta’, quando apesar de toda tentativa você não conseguiu o acordo, o convívio ou o mínimo necessário para um equilíbrio.

Ser um Brutus é poder dizer ‘não’, quando realmente é esta a palavra que se quer dizer, mas que, até o momento por inúmeros motivos, não se tinha coragem nem espaço para pronuncia-la.

Ser um Brutus é poder, como qualquer pessoa deste mundo, ter a liberdade e o direito de escolha quando o cenário á sua frente não é saudável e for necessário mudar.

Ser forte, nestes casos, não é apenas uma virtude, mas acima de tudo, uma necessidade.

Que o Deus que nos fortalece, dê a você a força necessária para aceitar as coisas que não pode modificar, modificar aquelas que pode, e sabedoria para distinguir umas das outras.
Caleb Mattos.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

A TEOLOGIA DA MPB - Lenine




Já faz algum tempo que admiro a poesia de Lenine.
Capaz de dizer muito com poucas palavras ele chama a atenção para a essência das coisas e não para a superfície.
Numa de suas canções chamada ‘Paciência’ já se vê o tom da sua busca- coisas do interior que tragam sentido e paz ao coração. Na letra desta musica uma frase em particular me emociona:
‘Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma,
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
A vida é tão rara, a vida não para’. https://youtu.be/9X-hhzu0riw
Não temos mais aquela percepção de que possuímos uma alma e ela clama. Clama pela falta e reclama pelo excesso. Não temos calma para mais nada e vivemos empurrados de um compromisso a outro de tal forma que deixamos de perceber a vida em sua raridade. Para ser notada ela tem que ser observada no silencio e na parada.
A alma humana tem sede de contato com aquele que a fez.  No salmo 42 os coraitas clamam: ‘ A minha alma tem sede de Deus’. Deus e a alma humana são tão íntimos e amigos mas por vezes um se desconecta do outro pela via da agitação e do olhar externo.
Distraída a nossa alma vagueia e se irrita porque lhe empurramos tudo quanto ela não suporta: pressa, excessos, ausência de parada, falta de meditação.
E Lenine diz que ‘o mundo vai girando cada vez mais veloz’.
Nesta velocidade nós nem percebemos a passagem dos anos.
E quando vemos já estamos na meia-idade ou passamos dela.
A sensação é de que corremos com tanta velocidade e força mas não ganhamos nenhum premio compensatório. Temos o que queremos, guardamos no interior da casa mas, nossa alma continua vazia, com fome.
Quem dera déssemos ouvidos ao clamor da nossa alma que diz: ‘quero vida porque ela é rara, quero Deus, só ele me basta, quero mais alma menos corpo’.
Caleb Mattos.