segunda-feira, 5 de julho de 2021

CLARIDADE

 


Por volta do ano 2000 AC os faraós do Egito se depararam com um grande problema. A cada vitória militar capturavam mais escravos de outras nações. Mas como dar ordens escritas a esses escravos se eles não sabiam ler os complicados hieróglifos?

Somente no ano de 1799 se conseguiu traduzir essa linguagem tão difícil graças ao descobrimento da Pedra de Roseta. Da complexa linguagem egípcia é que temos hoje nosso alfabeto.

As vezes não conseguimos interpretar certas coisas que acontecem. A linguagem é estranha e diferente do que já sabemos. Tentamos seguir o que pensamos compreender, mas caímos em equívocos variados.

Quem pode nos ajudar?

João no seu Evangelho diz: ‘No principio era a Palavra, a palavra estava com Deus e a palavra era Deus’. A palavra expressa a ideia, mas ela também cria o que depois a linguagem define. Nascemos neste mundo e nem sempre sabemos como é que funcionamos.

Jesus que estava no começo da criação conhece a todos pelo nome.  Ele pode nos ajudar naquelas horas em que não sabemos como agir, para onde ir e o que fazer. Com ele ao nosso lado tudo o que antes era mistério agora é claridade.

Caleb Mattos

 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

VENTOU, VENTEI!

 



‘O vento sopra onde quer. Assim como você ouve o vento, mas não é capaz de dizer de onde ele vem nem para onde vai, também é incapaz de explicar como as pessoas nascem do Espirito’(João 3:8)

O desejo do vento nunca é frustrado. Se pauta pela autorregulamentação soberana e não se limita a nada.

Nem a definições, nem a dogmas, nem a crenças subjetivas. Atropela expectativas, ri das previsões humanas, observa atento o que se passa em todo o planeta. O vento assume direção autônoma e submete a todos.

Regidos por ele notamos cedo ou tarde que lhe oferecer resistência é garantia de risco. Desde planos de vôo até cruzeiros no mar sabem disso por experiencia. Tudo se dobra a ele pois sua passagem é certa.

Do vento ouvimos o som, mas jamais poderemos dizer a ele como fazer o seu percurso. Ele varre as folhas, movimenta as nuvens, assobia e gira. Marca sua presença todos os dias e garante alternância de estações, trazendo as chuvas e limpando o céu.

O vento leva o que se foi e traz o que será. Apaga o que foi escrito na areia e produz a energia que abastece as moradas.

Os gregos o chamavam de ‘pneuma’. O ar em movimento. O hálito que mantem a vida, aquele que sustenta o folego. Nele vivemos, nos movemos e existimos. O Espirito. A centelha que nos recria, Deus presente em nós.

Caleb Mattos

sexta-feira, 11 de junho de 2021

O SOM DO SILENCIO.

 



‘O Senhor não estava no vento, nem no terremoto, nem no fogo. Depois, veio um suave sussurro, e uma voz disse: ‘O que você faz aqui, Elias?’ (1 Reis 19)

Manifestações da natureza. Vento, terremoto e fogo.

O Criador com sua palavra operou ‘ex-nihilo’ a cada um, uma vez que nada surge do nada. Mas sua voz fez o nada responder ‘sim’ e os seis dias foram povoados do tudo no meio do estagio vazio que permeava o cosmo.

Elias é profeta. Trabalho intenso e exigente em meio a reis que, ora são justiça, ora vileza.

Ameaçado de morte foge para o monte em meio ao nada. A pressão do contraditório extrai dele a fé, a certeza, a alegria. Pede a morte três vezes ao Deus que o fez. Resposta nenhuma.

Deus não ouve pedidos absurdos que são feitos em momentos instáveis.

Nova tentativa de escutar e ele se posta no pico do monte.

 Primeiro o vendaval faz as pedras se soltarem.  Deus não está nele porque se estivesse varreria Elias, o monte, e tudo que ali habitasse.

Agora um terremoto. Tudo é sacudido, remexido, abalado. Deus não está ali porque se estivesse tudo seria sugado para as entranhas da terra.

 Agora é o fogo que se apresenta. Deus, porém, também não se acha nele. Tudo seria reduzido a cinzas caso decidisse ser a chama que consome.

 O silencio é a sala de espera que antecipa a voz que a tudo acalma.

Ouve-se no monte um sussurro. Agora é Deus de verdade.

Tanta gente que padece sua realidade e corre atrás do barulho. No tumulto só terão vendavais, terremotos e incêndios. Estas coisas podem ser sedutoras, mas criam imaginário oco.

Deus está no sussurro. O profeta escuta, sai do monte e retoma sua vida. Não há mais medo, nem aflição.

Quando estiver pensando que nada mais resta, quando só se ocupar com a ameaça dos gritos ofensivos, quando o nível de polifonia for de muitos decibéis, busque a brisa leve. Ela sopra para aqueles que amam o som do silencio.

Caleb Mattos

segunda-feira, 7 de junho de 2021

O ABRAÇO DA ALMA.

 



‘Ainda que dizes que não o vês, a tua causa está diante dele; por isso, espera nele’ (Jó 35:14).

Ver ou ser visto?

 No campo da ciência a prerrogativa é o primeiro verbo. Tudo é constatado pela razoabilidade e existem meios de comprovação mediante analise. O olhar aguçado do observador submete tudo a teses, antíteses e sínteses. O produto obtido recebe certificado, carimbo, garantia de eficácia comprovada.

O campo da fé utiliza o segundo verbo. Somos fruto do design inteligente, mas a finalidade da existência não é nos submeter ao microscópio, nem avaliar a resistência dos materiais que compõem a nossa estrutura. O projeto que saiu da planilha da eternidade não se destina a fazer de nós commodities que rendam muito no mercado de ações.

 A vida é um fim em si mesmo. Não é pautada pelo quanto se vale, mas pelo objetivo do que veio a ser.

Queremos ter certeza de que somos vistos e ouvidos. Tomé padecia do mal comum da condição humana. Mas felizes são os que não viram e creram.

A confiança traz o sossego que se ampara em ser visto. Nossa causa está diante dele. Orações são as listas que organizam o trabalho diário do céu. Nenhum caso ali é arquivado sem solução.

Não imagine que sua lista está embaixo de um volume incontável de outras mais antigas. Não faltam no gabinete de Deus funcionários em tempo integral. É só esperar nele.

 Não procure motivos para crer. Você não encontrará nenhum. Crer é ir além das evidencias mensuráveis. É o abraço afetivo da alma com quem ela mais ama.

Caleb Mattos

quinta-feira, 3 de junho de 2021

SINTO FALTA DE BOAS NOTICIAS.

 



O ano era 490 antes de Cristo.

A épica batalha dos espartanos e atenienses contra os persas estava em seus dias mais acirrados.

Um dos soldados de nome Fidípides foi enviado para buscar ajuda em Esparta para aumentar o numero do exercito grego. Correu muito para ter tempo de batalhar contra o inimigo. Os gregos venceram e celebravam.

 Fidipedes então corre de volta para Atenas a fim de avisar a cidade que tudo havia terminado e que eles haviam vencido. Corre rápido para comunicar a mensagem, consegue anuncia-la e cai morto vitimado pela exaustão.

Ele era portador de boas notícias em meio ao medo de uma nação em suspense sobre o desfecho da batalha.

O texto acima diz que ‘são belos os pés dos mensageiros que trazem boas-novas’.  Nosso País precisa de gente assim. Que seja portador de mensagem de paz porque o conflito vilipendia o valor do que pensa diferente, que teve formação distinta da nossa e que através de caminhos que nem sempre trilhamos se tornou quem é.

Mensageiros que carregam notícias relevantes que ajudam a construir o digno e o sublime diante da banalidade nossa de cada dia.

Mensageiros não tem lado, nem ideologia. Foram convocados pelo Deus que se fez carne a declarar que somente em Cristo se encontra a verdade, o caminho mais saudável e a vida que tem a impressão da perenidade.

 Ele nos chamou com a tarefa de anunciar que nele tudo subsiste, que ele é o supremo sobre toda a criação, existe antes das coisas e mantem tudo em harmonia, e diante dele se dobrará todo joelho no céu, na terra e debaixo da terra.

 John Stott comenta que, quando uma sala está escura não adianta culparmos a escuridão. A pergunta a ser feita é: ‘onde está a luz?’

Uma única lâmpada clareia um ambiente restrito. Muitas delas acesas iluminam uma cidade. Fidipedes gritou em Atenas: «nenikekamen!» Vencemos! Se a boca fala do que está cheio o coração, seja o coração cheio da fala que faz bem.

Caleb Mattos

terça-feira, 1 de junho de 2021

PARA QUEM VOCÊ ORA?

 



‘Percebendo o entusiasmo do povo, Arão construiu um altar diante do bezerro’(Êxodo 32:5)

A religião de nossos dias se pauta pela regra do mercado.

É preciso satisfazer a exigência, atender o prazo, cumprir a meta, sob o risco do deus que se venera ser trocado por outro que tenha marketing mais favorável.

Brasileiro é povo mestiço. Disso vem nossa riqueza cultural, nossa música, nossa arte, nossa afetividade calorosa, nosso acolhimento e a intensa e necessária criatividade que ajuda a lidar com a vida.

Mas o brasileiro é também sincrético. Capaz de ir do terreiro á missa, da missa ao culto e do culto aos milagreiros, tão rapidamente quanto demorar para ser atendido.

Enquanto eu guiava meu carro certo dia vi á minha frente outro veículo. Uma fita vermelha pendurada no para-choque se arrastava pelo asfalto. Um versículo da Bíblia colado no vidro traseiro. No retrovisor interno fitas em grande número dedicadas ao senhor do Bomfim, entrelaçadas por uma figa.

Será que temos sangue israelita?

 Moises está no Sinai recebendo a Lei. Ele demora. O povo se impacienta. Acham uma solução rápida para sua intolerância ao tempo: ‘Vamos fazer um deus e adora-lo’.

 Juntam todo o ouro que tem, o derretem e constroem um bezerro. Saíram do Egito onde havia a pratica da taurobolia. O Egito, porém, não saiu deles.

Arão, líder como Moises vê o entusiasmo do povo e edifica um altar para o novo deus. A palavra entusiasmo na língua grega significa ‘ter um deus dentro de si’.

 Aprendi que eu não posso conhecer o único Deus a não ser que ele se revele a mim, como o fez na encarnação de Jesus: ‘Vimos a sua gloria como a do Pai’.

Fora isso criamos imagens mentais sobre ele. Achamos já saber o que ele dirá, o que fará e como agirá. Ele nos diz: “Meus pensamentos são muito diferentes dos seus”, diz o Senhor, “e meus caminhos vão muito além de seus caminhos. Pois, assim como os céus são mais altos que a terra, meus caminhos são mais altos que seus caminhos, e meus pensamentos, mais altos que seus pensamentos” (Livro de Isaias).

Muita gente se frustra quando busca e não alcança, quando pede e não recebe. Avaliação que se faz necessária é se estamos falando com nosso deus mental ou com o Único. Nosso deus mental nos frustra, decepciona, falha e não ouve.

O Único, que é abscôndito, sem imagem nem semelhança humana, puro espirito, eterno, transcendente, invisível, mas presente, está com os ouvidos atentos e com as mãos estendidas. Jogue fora seu deus inventado. Fale com aquele que verdadeiramente é Deus.

Caleb Mattos

segunda-feira, 31 de maio de 2021

TEM UMA NUVEM SOBRE VOCE!

 



‘E isso ocorreu ao longo de todas as jornadas dos israelitas’ (Êxodo 40:38)

Existe um padrão que se repete na travessia pelo deserto.

Por 40 anos uma nuvem pairava sobre o acampamento israelita. Hora de parar a viagem. A nuvem se elevava. Hora de prosseguir a caminhada. Para eles, sinal inequívoco da condução do céu.

Naqueles dias Deus era percebido pela nuvem. Nuvem não era aceno de más notícias. Não se temia nada. Ela era companheira permanente.

Sabe aquele dia em que o céu está ausente delas, onde o azul é pleno? Ou ocasiões em que o azul desaparece e o teto fica coberto de densas formações? Nem uma coisa, nem outra era o cenário de então.

Lá estava ela, tão certa como o nascer do sol e a chegada da lua.

 Permanência.

Nossa vida é impermanente. A terra gira, giramos do mesmo modo. As coisas saem do lugar inesperadamente. Outras ocupam o vazio, e o vazio nem sempre se torna repleto.

 ‘Quem mexeu no meu queijo’?

Queijos são mexidos o tempo todo.

O que é bom é desejado. Nuvem pressupõem movimento.

 No acampamento israelita ela dava a ordem de partidas e chegadas. Nem sempre todos queriam partir. Imagine situações como um parto, uma convalescência, uma festa prestes a acontecer com data marcada, cansaço, peso dos anos.

Mas andar é preciso.

Mais uma etapa, mais um quilometro, um trecho adiante. O alvo era chegar na terra do leite e do mel. Por isso a vida muda tanto. Parar é como se despedir dela.

 Imobilidade anuncia desistências. Deus, porém, é movimento. Ele e a nuvem são aspectos diferentes da mesma essência.

 Importa não dar atenção ao desafio da mudança. Melhor é agradecer pela nuvem que nos acompanha. Nosso destino não é o deserto, a terra da promessa está logo à frente.

Caleb Mattos

sexta-feira, 28 de maio de 2021

VOCÊ ESTÁ CHIPADO!

 



‘Ele colocou um senso de eternidade no coração humano’(Eclesiastes 3:11)

O texto que você leu acima é uma reflexão sobre o tempo. Nele aparecem as palavras ‘tempo’, ‘momento’ e ‘eternidade’.

Cada uma destas medidas compõem o mosaico da experiencia humana: nascer e morrer; plantar e colher; matar e curar; derrubar e construir; chorar e rir; entristecer-se e dançar; espalhar e ajuntar; abraçar e afastar-se; procurar e deixar de buscar; guardar e descartar; rasgar e remendar; calar e falar, amar e odiar, guerra e paz.

O tempo é aquele decreto fixo determinado pelas horas e anos. Dizemos que o tempo não espera, ele é veloz e uma vez que passou nada mais resta a fazer.

Quanto ao momento, o chamamos de oportunidade. São aquelas visitas do instante em que algo extraordinário acontece e surpreende, trazendo alegria e abrindo o sorriso, instalando a festa. Nosso desejo é congelar esse visitante da boa nova para que ela não mais tenha fim.

Sobre a eternidade, porém, é preciso dizer que ela é a melhor medida e a mais importante. Porque eternidade é transcendência sobre o tempo e o instante. Receber a eternidade é ver tudo com os olhos da garantia de que não haverá mais luto, nem morte, nem pranto e nem dor. Tudo terá passado.

Deus instalou em nós esse chip da eternidade. Nós a percebemos quando paramos o que estamos fazendo para ver o por do sol. Aquela visão nos desliga de tudo e é como se fossemos levados ao céu, experimentando algo que vai além das repetidas preocupações diárias e das palavras de definição.

 Eternidade é a aquisição da consciência de que não fomos feitos para o limite, de que este mundo é pequeno diante daquele que é a nossa origem.

Não achei até hoje metáfora mais adequada do céu do que o útero materno. Um espaço de calor, segurança, providencia e acolhimento. A presença de Deus é como útero.

Aproveitar bem o tempo é fundamental.

Celebrar as oportunidades com alegria é não perder a mágica do inédito.

Mas viver a eternidade é encontrar em meio ao torvelinho aquele que acalma os ventos, que abre os olhos. Visão da beleza, plenitude da paz.

 Caleb Mattos

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Comida no prato e sorriso no rosto.

 



‘Ana começou a se alimentar novamente, e seu rosto já não estava triste’ (1 Samuel 1:18)

Ir ao templo pode ser feito com o coração alegre: ‘Entrai por suas portas com ações de graças’(Salmos 100).Ou pode ser pesaroso quando a alma está abalada.

Ana vai ao templo, mas é provocada todas as vezes porque Penina zomba dela. Bebês eram levados ao templo. Os de Penina estavam sempre a seu lado. Ana, porém, era estéril.

Voltava para casa e não comia. Suas lagrimas eram seu alimento. Um único tema ocupava suas preces: um filho. E na obsessão por ele, menos alegria, menos alimento, mais tristeza.

 A depressão é uma somatória das lagrimas e da falta de um sentido. Perde-se o apetite porque o sabor da vida fica amargo. Tudo é monotônico, repetido, o alfabeto se reduz a poucas letras, a conversa gira em torno da falta e o que existe não é causa de gratidão.

O marido de Ana tenta lembra-la do seu carinho, o afeto entre eles, o amor dedicado. Ana é incapaz de celebrar o que tem. Peso da zombaria das mulheres, boatos de que Deus fechou seu útero, o sacerdote acusando-a de embriaguez.

Na depressão a culpa acrescenta mais peso ao que já não se suporta. Deus, porém, a observa, a escuta, prepara o balsamo que se derramará sobre o odor do pranto acumulado. Eli pronuncia a benção: ‘Vá em paz, que o Deus de Israel lhe conceda o que você pediu’.

A mulher de aflições, pela primeira vez em meses de melancolia, diz: ‘obrigada!’ A gratidão é indicativa de que a depressão está arrefecendo. Ana substitui o silencio pela fala. As lagrimas pelo riso. O prato vazio pelo prato cheio. A libido retorna. Ana engravida. Nasce Samuel.

Tristeza que se vive sozinho é como labirinto. Melancolia vertida em oração é semente que se planta para o novo dia. Como havia prometido, Ana devolve o filho após desmama-lo.

Ele será o conselheiro de muitos reis de Israel e um sacerdote abençoado. Ela o devolve e em seu gesto fica a lição: depressão pode ser revertida quando transformamos uma obsessão em oferta. Doamos aquilo que julgávamos imprescindível á vida. E vivemos satisfeitos porque não somos mais dependentes de nada.

Caleb Mattos

terça-feira, 25 de maio de 2021

NÃO SE TRATA DE QUEM É VOCE

 


NÃO SE TRATA DE QUEM É VOCE.

‘Moises disse a Deus: ‘Quem sou eu para me apresentar ao faraó?’ Deus respondeu: ‘Eu estarei com você’. ‘Eu sou o que sou’ (Êxodo 3:11,14)

Uma pergunta formulada a respeito da existência.

 Quem somos?

O que nos define? Somos uma construção inacabada, uma obra incompleta?

Somos a somatória de valores e culturas?

Somos o que escolhemos?

Somos fruto do meio?

Somos reputação?

 Somos o que se vê ou aquilo que Deus escreveu no seu livro quando ainda no útero já determinara cada um de nossos dias?

Os dez espias amedrontados expressam: ‘somos gafanhotos diante dos gigantes’. Os dois espias retrucam: ‘Não! Eles são o pão que nós vamos devorar!’

 Egito. Dura servidão. Trabalho incessante e exaustivo em beneficio da gloria evanescente.

O soberano que subiu ao topo da pirâmide em breve sucumbiria nas profundezas do mar.

Moises, tirado das águas, por elas levaria o povo a pé enxuto até as areias que anunciavam o tempo de leite e mel.

Mas, ele diz: ‘Quem sou eu?’

Repetidos momentos ele tenta escapar. Diz que não sabe falar, se atrapalha com as palavras. Pede que outro vá no seu lugar.

O eco da insegurança ressoa: ‘Quem sou eu?’

Para essa questão só existe uma resposta: ‘Eu sou o que sou’.

Não se trata de Moises, mas de Deus.

Não são nossos limites, e sim o revestimento do alto.

Não é como eu falo, é quem fala em mim.

Não diz respeito à fraqueza inerente, mas ao poder que tudo opera.

Nas horas em que é grande o desejo de Jonas, onde o navio da fuga está prestes a zarpar, pare por um momento.

Cale a voz que treme como o frio que sopra forte em campo aberto.

 Esqueça o ‘quem sou eu?’

Abrace a compreensão espiritual que Paulo teve: ‘Pela graça de Deus eu sou o que sou’. A graça lembra que não sou eu, mas é Cristo que vive em mim’.

Caleb Mattos

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Você não é Atlas!

 



‘Os servidores do templo consertaram o muro até a Porta das Águas. Mais adiante, os habitantes de Tecoa consertaram outro trecho, desde a torre alta até o muro de Ofel’ (Neemias 3:26-27).

A reconstrução dos muros e da cidade de Jerusalém.

Época de Neemias e Esdras.

Autorizados pelo rei da Pérsia, estando antes em grande aflição por saber noticias da sua terra arrasada, queimada, desfigurada da beleza e furtada de suas memorias.

Ao chegarem conseguem adesão do povo e todos iniciam a obra, extensa e difícil, só possível se cada um juntasse forças a outro. O texto vai discorrendo na temática da elevação do muro. Cada grupo edifica uma parte dele.

O trecho seguinte é sempre retomado por outra família, outra equipe. Corrida de revezamento. Bastão passado de mão em mão até que tudo se conclua.

Não faltam dificuldades. Inimigos atacam, boatos correm, palavras dirigidas á tentativa de criar a pausa, a desistência, a interrupção. Neemias clama: ‘Senhor, fortalece as minhas mãos’. 

Palavras cabem, mas no momento adequado. Necessárias, mas nunca como substitutas da ação. Não se pede argumentos para refutar acusações. Que as mãos perseverem de trecho em trecho até que tudo se cumpra.

Grandes projetos não se fazem sozinhos. Andorinha só não faz verão.

 Afoitos, acreditamos que nossa responsabilidade é ser Atlas. Suportamos o peso do mundo e esquecemos que a terra gira por si mesma.

Um dia Moises, atendendo multidões de manhã á noite, ouviu do sogro a proposta: ‘Escolhe homens capazes que lhe ajudem nesta imensa tarefa, sozinho não suportarás’.

Em 52 dias, o muro que cercava a cidade toda, ficou pronto. Tempo recorde. Tão espantoso que as nações vizinhas ficaram assustadas e sentiram-se humilhadas porque perceberam que a obra havia sido realizada com a ajuda de Deus.

Não tente fazer tudo sozinho. Não se imagine salvador de pessoas e situações. Você faz uma parte do muro. A outra parte cabe ao próximo. A diferença em tudo é que Deus edifica junto. O Mestre de Obras coopera com aqueles que seguem seu projeto.

Caleb Mattos

segunda-feira, 26 de abril de 2021

VIVA AGORA O QUE VOCE ESPERA UM DIA.

 


‘Não olhamos para aquilo que agora podemos ver; em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver’(2 Coríntios 4:18).

Existem coisas que duram e existem coisas que acabam.

O permanente tem a característica de não ser afetado por variáveis. O finito, como o nome diz, tem prazo de validade. Em muitas ocasiões celebramos, agarramos o que nos foi dado, mantemos sempre por perto, associamos felicidade àquilo que causou um senso de pertencimento.

Se ocorrem perdas dizemos que a felicidade foi embora, como se aquilo que era impermanente tivesse o poder de garantia de um estado absoluto de bem estar. Confundimos a fonte da paz e da alegria com aquilo que é neutro em si mesmo.

Um carro é um amontoado de peças bem ajustadas, mas o símbolo que ele carrega nos faz acreditar que esse objeto é o causador do nosso contentamento. Assim é com todas as demais coisas.

Nosso olhar se detém com muita frequência no que é passageiro e faz disso a razão dos nossos dias. Alguns, diante da inevitável retirada destas coisas não suportam e sucumbem. Desistem. Ou de algo ou até de tudo.

Outros parecem já ter aprendido a construir um patrimônio imaterial dentro de si chamado fé. O primeiro grupo olha somente o exterior. O segundo, embora considere o exterior, tem ciência de que o interior é o que resiste diante do sumiço do primeiro.

O apóstolo Paulo declara enfaticamente: ‘Nunca desistimos’.

E no texto ele estabelece alguns antônimos interessantes: exterior versus interior, morrer versus renovar, aflições versus gloria, o que é momentâneo versus o que dura para sempre, o que se vê versus o que não se pode ver.

Onde está situado nosso olhar nestes tempos? No que dedicamos mais atenção?

Quanto mais a ênfase se coloca no exterior maiores são as chances de desanimo, abatimento e a possibilidade da desistência. Quanto mais amamos o que é interior, no mundo da fé, maiores são as garantias de sobrevivência a tudo que acontece.

Carl Jung dizia: ‘Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta’.

De fato, quantos sonhos imaginativos construímos com aquelas realidades ‘que enchem os olhos’, envolvendo emoção em tom elevado, desejo crescente e ansiedade por apropriação. Como a criança que tem diante dos olhos o presente embrulhado, dá gritos e pula, não se aguentando de vontade de pôr a mão na dádiva, assim somos nós. Ansiedade, inquietação, experiencia natural de quem está vivo.

Por outro lado, quando olhamos para dentro despertamos. Adquirimos senso de racionalidade e sabemos esperar. Não somos afoitos e nem tomados pelo desespero. O coração se mantem em estado de gratidão pelo que sabe ser seu, e se algo a mais vier, será lucro. As coisas da fé são eternas.

Em comparação, o transitório é roubado, pega ferrugem e a traça come, mas o eterno dura mesmo depois que a vida aqui diz adeus.

Na eternidade, tudo que deixava a gente com os cabelos em pé (ou que os fez caírem), tudo que tirou o sono da noite, tudo que irritou e esgotou a paciência, será apagado do registro da memória.

Não haverá choro, nem luto, nem pranto, nem dor. Dirão: ‘ah, mas isso é só para depois da morte’.

Não.

Quem vive hoje aquilo que um dia será seu, faz de seu hoje o céu de amanhã.

Caleb Mattos

UM NOVO TEMPO

 

 


No relato da Criação em Genesis existe um detalhe curioso. A narrativa diz que ‘a terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas’.

 Se o texto parasse aqui daria a entender que antes do ‘fiat lux’ tudo era somente caos, somente escuridão, apenas trevas. Só que o texto continua dizendo ‘... e o Espirito de Deus se movia sobre a superfície das águas’ (Genesis 1:2).

A referência ao Espirito Santo em meio ao caos é valiosa. Implica dizer que o caos nunca é somente caos. Nele também habita movimento causado pelo Espirito de Deus. E em apenas um verso podemos verificar o principio da ordem em meio a qualquer tragedia.

Porque antes mesmo do primeiro dia da criação, portanto, antes da existência do cosmos, antes da existência dos planetas, antes das estrelas, antes do sol e da lua, antes das florestas e vegetação, antes dos oceanos e seres marinhos, antes do homem e da mulher, antes do pecado, antes da serpente, havia um caos. Mas um caos habitado pelo Espirito de Deus.

Para além daquilo que nos amedronta e remove incertezas estabelecidas temos a garantia de não estarmos sós a lidar com a história. O Espirito não apenas se manifesta presente, mas ele se movimenta.

 É o seu mover que predomina sobre a escuridão do não saber, a ignorância quanto ao próximo minuto, a falta de clareza sobre o que decidir, para onde ir, o que fazer.

 Jesus, ao se despedir de seus seguidores, garantiu a eles: ‘Não vos deixarei órfãos, eu voltarei’. Enquanto isso ele enviou o Consolador.  Aquele que permanece ao lado. O mesmo Espirito que está em Genesis.

Hoje a pandemia é o caos do momento. Mas, por favor, nunca esqueça. O Espirito de Deus está se movendo. Há de surgir a luz, e com ela, um novo tempo, num novo mundo.

Caleb Mattos

QUANDO PASSAR A CARAVANA



‘Quando José chegou, os irmãos lhe arrancaram a linda túnica que ele usava, o agarraram e o jogaram numa cisterna vazia’ (Genesis 37:23)

José experimenta um processo disruptivo.

 O preferido do pai, na segurança do lar, se acha no campo na companhia daqueles que tem ressentimento na alma. Perde a túnica vistosa e valiosa e permanece apenas com o básico a cobrir a nudez.

Perde a cama macia e ganha o poço seco. Os sonhos que lhe vem com abundancia são interrompidos pela palavra acusatória.

 José chegou ali. Junto aos instintos e afetos nocivos de seus irmãos.

 O abraço do pai é coisa do passado. O seu presente é o empurrão para dentro da vala funda.

Aquilo que rompe os padrões o atinge e de um instante firmado na estabilidade ele passa á agonia das horas que se arrastam.

Passa a caravana. Ismaelitas a caminho do Egito. Negociantes. Dinheiro á vista.

José é vendido e desaparece atras da ultima duna de areia. Voltam os irmãos ao pai. Mentira. Dissimulação. Choro fingido.

Estaríamos, então, nesta vida entregues ao capricho dos sentimentos magoados de outros? Há que se fechar a boca, reprimir o que se sonha, omitir a essência do ser somente por medo do que farão com o que representamos?

 Será que é verdade mesmo que a inveja alheia é a foice que espreita nosso descuido?

Acelere o tempo.

Anos mais tarde, José governador egípcio. Ninguém compra se ele não vender. Ninguém vende se ele não comprar.

 Na corte de Faraó o garoto do poço é o segundo na hierarquia. Chegam seus irmãos á terra das pirâmides. Surpresa. Choque. Vergonha. Culpa. ‘Seremos agora vingados daquele de quem nos vingamos?’ 

José traz toda a sua família de origem para morar no Egito, incluindo o pai. Morrem todos ali unidos e em paz harmônica. A palavra dele: ‘Não tenham medo de mim. Por acaso sou Deus para castigar vocês? Vocês pretendiam me fazer o mal, mas Deus planejou tudo para o bem. Não tenham medo. Continuarei a cuidar de vocês e de seus filhos’.

 Sei que é provável que você esteja neste momento dentro do seu poço. Não entendendo nada. Saiba de uma coisa. Deus visita poços. A caravana está chegando.

Caleb Mattos